“Fazer amor é um ato sem importância, já que se pode repeti-lo indefinidamente” é a frase de abertura deste romance provocador. A narrativa se passa em 1920, dezoito anos à frente da data de publicação, o que ajuda a explicar o subtítulo romance moderno. Irreverente, erótico, repleto de jogos de linguagem e de elementos que o fazem flertar com a ficção científica, o livro relata a saga de um homem capaz de realizar o ato amoroso em escala sobre-humana.
Embora tenha importância indiscutível, a sexualidade não é a única questão debatida. A disputa entre um trem capaz de atingir velocidades inimagináveis e uma equipe de ciclistas – cuja energia provém unicamente do inovador Perpetual Motion Food –, bem como a invenção de um dispositivo teoricamente capaz de incutir sentimentos, colocam o amor e a relação entre homem e máquina lado a lado. Por meio do corpo, testam-se limites, sejam eles sexuais ou esportivos, e confundem-se o prazer físico e o desejo de quebrar recordes.
A obra de Jarry expõe uma sociedade em que o ser humano se fortalecia pelos avanços da ciência e, ao mesmo tempo, ficava cada vez mais submetido a ela. Em sua busca pelo absoluto, teria o homem, ele próprio, se transformado em máquina? Situando fora de seu tempo uma discussão que, paradoxalmente, encontrava eco nas reflexões da época sobre o amor e o desejo, Jarry compôs um romance cuja atualidade permanece intocada e onde se ouvem ecos do super-homem de Nietzsche.